Leitura Interativa
Clone
versus Gólem
Eliane Marques Colchete de Morais e Luís Carlos de Morais Junior
[Uma proposta de
desenvolvimento da escrita através da literatura]
Capítulo 1: o carro parece peteca
Carlos acorda e sua mãe lhe fala que está atrasado para
a escola.
Não, ele ainda não tinha acordado, estava sonhando que
sua mãe estava lhe acordando. Logo, estava dormindo.
Num relance percebeu que se conscientizava do seu sonho
e isso foi uma senha para acordar de verdade e ver que estava tudo escuro à sua
volta e lá fora. Carlos dormia com a janela aberta com medo por causa dos
morcegos que havia ali pela região, que todos falavam que eram frugívoros, mas
ele sabia lá.
Por outro lado não conseguia dormir com a janela
fechada, por mais frio que fizesse. Pois ele tinha verdadeiro horror a ficar
fechado em lugares como carros, salas, quartos, elevadores, trens, ônibus e
barcas. Carlos ainda não tinha andado de avião, sua família era mais pra pobre
que pra rica. E ele se sentia um verdadeiro homem das cavernas.
Viu no relógio que ainda faltavam muitas horas para que
pudesse se arrumar e ir para o colégio, então, já que estava tão sem sono, e
até mesmo ler um livro implicaria em acender a luz que poderia acordar seus
pais que viriam ver o que estava acontecendo, ele se sentou na frente do
monitor do seu micro e se conectou à internet. A fraca luminosidade da tela não
escaparia por baixo da fresta da porta e assim não incomodaria os outros.
Logo viu que havia um e-mail de seu colega Lenardo, o
Imbecil. Esse epíteto era uma brincadeira ainda que meio agressiva dos amigos,
pois o fulano era meio tipo um gênio e isso era muito revoltante.
Message to: carloswaiteri
From: lenarthethundercat
Poeta, eu descobri uma
coisa incrível, que vai colocar tudo que os outros já fizeram e você sabe no
chinelo. Não sei como explicar, é melhor não falar nada aqui, ou pelo telefone,
ou na escola. Acho que nem vou lá, estou excitado demais pra ficar a manhã
inteira ouvindo bobagens. Encontro você na Biblioteca Nacional hoje às três da
tarde. Não responde o e-mail, esteja lá!
Era assim o tom do Lenardo.
O que poderia ser tão incrível e necessitaria tanto
segredo? Lenardo já projetara e construíra robôs, computadores e pequenas naves
espaciais que levaram ratos e outros bichos para altas camadas da estratosfera.
Carlos pensou com afinco, enquanto a noite se desenrolava no seu tédio,
precursor do outro, aquele bulhento e debilóide da escola.
E aí ele ficou com medo, ou entusiasmado. Pois chegou à
conclusão de que a clonagem humana já estava sendo realizada em várias nações,
logo não deixaria Lenardo tão baratinado, se fosse esse o seu projeto atual. E
o que mais conseguiu aventar foi: nanorobôs para realizar trabalhos miraculosos
de engenharia e genética, o que é muito interessante, digamos. Ou uma bomba, de
atômica pra cima, o que é muito, muito preocupante, pois o imbecil gênio do
Lenardo com certeza iria querer testar aquilo que o seu gênio houvesse
concebido, fosse o que fosse.
O termo clone é derivado de clon, a palavra grega para
“ramo”. Em horticultura, a forma
clon foi usada até o século XX. A vogal e
entrou em uso para mostrar que a
vogal é um “o longo”, não um “o breve”. Desde
que o termo tornou-se comum no léxico popular em um contexto mais geral,
a forma clone tem sido usada exclusivamente.
(...)
·
Em biologia um
clone é qualquer organismo cuja informação genética é idêntica à do
“organismo-mãe” do qual foi criado
·
Em biologia molecular um clone é uma réplica exata do todo ou de
parte de uma macromolécula (ex: DNA). Veja clone (genética)
·
Em ciência de
computadores um clone é um sistema informático baseado no sistema de outra
empresa e designado para ser compatível com este. Veja clone (ciência de
computadores)
(...)
➯ Você imagina o que Lenardo inventou agora?
Escreva sobre o que poderia ser... E aproveite para fazer uma pesquisa na
Internet - sobre clones, golens ou o que mais você inventar!
Insert
here your search - coloque aqui a sua busca
Capítulo 2: quem cola a cola na
escola
Assim que chegou na sua sala de
aula, ele viu que tudo estava anormal, agitado, como se as pessoas percebessem
que havia alguma coisa no ar.
Foi tudo muito chato e demorado, mas
houve uma hora que ele pode se soltar, e caminhar pelo pátio do colégio,
ponderando sobre o que faria em cada um dos casos do que conseguia supor que o
Imbecil estivesse tramando ou houvesse tramado. Viu ao longe Frank comendo seu
lanche sozinho, como estava acostumado. Carlos se aproximou.
- E aí Frank.
- Oi Poeta, blz?
- Quais as novas?
- Tudo velho. Coloquei anúncio pra
formar a banda. Só apareceu um nerd gordo.
- Que que ele toca.
- Batera.
- Já são dois. Só precisa do
guitarrista agora. Tu canta pra caramba, solando no baixo mais que marcando.
- Mas ele é nerd!
- E quiku? Nerd todo mundo, dum
jeito ou doutro, melhor ser do melhor.
- E há melhor?
- Autocompensação.
- Você podia aprender guitarra.
- Tu tá doido.
- E o Lenardo?
Frank estava se referindo à
possibilidade do amigo aprender o instrumento e compor a banda com ele e o
gordo nerd, mas, como em seu pensamento, Carlos estava obcecado pela mensagem
sobre o novo segredo de Lenardo, foi isso que entendeu que Frank perguntava.
- Ele pirou de vez. Fez uma bomba.
- Bomba?
- Ou coisa pior.
- Atômica?
- Daí pra cima.
Frank coçou o queixo com penugem.
- Os esquemas estão na internet, até
um cara com inteligência normal conseguiria acessar e montar um. A questão é o
material, de pureza incrível, refinado por laboratórios do governo. O projeto
não é nada, isso qualquer um consegue. O urânio Lenardo não pode obter.
- Sabe lá.
- Os terroristas poderiam roubar.
Ele é só um rapazote de quinze anos.
- Ou então sei lá o que é, mas é
coisa grande. Eu nem deveria estar contando.
- Então não conta.
- Ele marcou encontro comigo hoje.
Percebeu que o Frank não estava
prestando atenção, nem um pouco interessado pelos mistérios do Imbecil.
Carlos sabia que Frank só conseguia
pensar em Patrícia e no seu sofrimento. Os dois problemas estavam totalmente entrelaçados.
Como Patrícia iria dar bola pra um cara feito o Frank?
É que ele...
Nesse momento a gang do Matusquela
cercou a dupla.
- E aí, monstro freaky, como tu
anda.
- Juntos, criador e criatura.
- Foi o pai dele que fez ele.
- É.
- Todo mundo sabe tudo.
Nesse momento, em que Frank e Carlos
já se preparavam para mais uma seção de porrada e outra de esporros na
coordenação, eles batiam e apanhavam, depois iam suspensos, assim como a
gangue, foram salvos pelo gongo, o recreio acabou, começou a aula, o recheio
ele não sacou, mas logo estava na rua, andando, fazendo hora pro encontro.
➭ Frank está apaixonado por
Patrícia... Mas parece que ele não tem coragem de dizer isso para ela! Um
diálogo é um gênero textual que simula uma conversa. Para isso utiliza-se o
travessão ( - ) introduzindo a fala de cada um
dos participantes. Repare como foi feito o uso de diálogos ao longo do livro.
Agora escreva uma conversa. Imagine que o Frank, de repente, consegue ter
coragem, chegar para a Patrícia e revelar o seu amor. Ou então, se você
preferir, aproveite para dar o seu recado...
→ Você já se interessou por datas
comemorativas? Algumas são notórias como o dia das mães, mas existem algumas
muito interessantes que a maioria das pessoas desconhece. Veja o calendário e
aproveite para escrever sobre alguma data que seja especial para você.
Datas do
Livro
JANEIRO
Dia 05 - Criação da Primeira Tipografia no Brasil
Dia 07 - Dia do Leitor
Dia 17 - Fundação da UBE União Brasileira de Escritores (ano de 1958)
Dia 05 - Criação da Primeira Tipografia no Brasil
Dia 07 - Dia do Leitor
Dia 17 - Fundação da UBE União Brasileira de Escritores (ano de 1958)
FEVEREIRO
Dia 07 - Dia do Gráfico
Dia 27 - Dia Nacional do Livro Didático
Dia 07 - Dia do Gráfico
Dia 27 - Dia Nacional do Livro Didático
MARÇO
Dia 12 - Dia do Bibliotecário
Dia 14 - Dia do Vendedor de Livros
Dia 14 - Dia Nacional da Poesia
Dia 19 - Dia do Livro
Dia 21 - Dia Mundial da Poesia
Dia 28 - Dia do Diagramador e do Revisor
Dia 12 - Dia do Bibliotecário
Dia 14 - Dia do Vendedor de Livros
Dia 14 - Dia Nacional da Poesia
Dia 19 - Dia do Livro
Dia 21 - Dia Mundial da Poesia
Dia 28 - Dia do Diagramador e do Revisor
ABRIL
Dia 02 - Dia Internacional do Livro Infanto-juvenil
(Nascimento de Hans Cristian Andersen, Dinamarca, 1805 - pioneiro autor da literatura infanto-juvenil)
Dia 04 - Dia do Livreiro Católico
Dia 18 - Dia Nacional do Livro Infantil - (Nascimento de Monteiro Lobato, 1882)
Dia 23 - Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral
Dia 02 - Dia Internacional do Livro Infanto-juvenil
(Nascimento de Hans Cristian Andersen, Dinamarca, 1805 - pioneiro autor da literatura infanto-juvenil)
Dia 04 - Dia do Livreiro Católico
Dia 18 - Dia Nacional do Livro Infantil - (Nascimento de Monteiro Lobato, 1882)
Dia 23 - Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral
MAIO
Dia 01 - Dia da Literatura Brasileira
Dia 13 - Dia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Dia 21 - Dia da Língua Nacional
Dia 01 - Dia da Literatura Brasileira
Dia 13 - Dia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Dia 21 - Dia da Língua Nacional
JUNHO
Dia 10 - Dia da Língua Portuguesa
Dia 10 - Dia da Língua Portuguesa
JULHO
Dia 18 - Dia do Trovador (Homenagem a Gilson de Castro (Luiz Otávio))
Dia 25 - Dia do Escritor
Dia 18 - Dia do Trovador (Homenagem a Gilson de Castro (Luiz Otávio))
Dia 25 - Dia do Escritor
SETEMBRO
Dia 02 - Dia Internacional do Livro Infantil
Dia 08 - Dia Internacional da Alfabetização
Dia 30 - Dia Mundial do Tradutor
Dia 02 - Dia Internacional do Livro Infantil
Dia 08 - Dia Internacional da Alfabetização
Dia 30 - Dia Mundial do Tradutor
OUTUBRO
Dia 04 - Dia do Poeta
Dia 29 - Dia Nacional do Livro
Dia 04 - Dia do Poeta
Dia 29 - Dia Nacional do Livro
NOVEMBRO
Dia 05 - Dia Nacional da Cultura
Dia 15 - Dia Nacional da Alfabetização
Dia 23 - Dia Internacional do Livro
Dia 05 - Dia Nacional da Cultura
Dia 15 - Dia Nacional da Alfabetização
Dia 23 - Dia Internacional do Livro
Capítulo 3: o encontro o projeto
Enquanto Carlos caminha olhando as
ruas e coisas e pessoas do centro, vamos entrar na problemática de Frank, não
na sua cabeça.
Uma informação útil é que Frank era
estranho, magro, alto pra sua idade, desengonçado, muito branco.
A continuação da problemática todo
mundo já sacou; ao lado de ser achincalhado pelos colegas e temido pelos mais
fracos e os estranhos na rua, vivia com a certeza de que não conseguiria atrair
o olhar de uma mulher, ou moça, quanto mais daquela Pat que ele achava a
melhor.
A verdade é que todo mundo pensava
que Frank não era um verdadeiro garoto, e sim um homem montado com pedaços de
vários outros, e revivido pelo poder da eletricidade, já que seu pai era mesmo
um cientista e um homem bastante calado, na sua casa só moravam seus pais e ele,
e havia ali um porão vedado a estranhos, onde seu pai se fechava a maior parte
do tempo.
Carlos filmou a rua e os transeuntes
e ficou olhando muito tempo camelôs que vendiam tudo/nada e faziam shows para
fazê-lo(s).
Assim as coisas.
Assim Carlos, que queria ser
escritor, quando crescesse.
Uma vez a Patrícia lhe perguntou por
que esperar crescer.
E ele não soube responder.
Mas é que se achava tão burro em
todos os sentidos, como escrever algo que valha a ser e ler, ele não sabia.
Por via das dúvidas começou a ler
mais, mais, mais, mais, mais.
Ela soubera colocar o dedo na
ferida.
Não queria pensar nisso agora, hora
do encontro, entrou na Biblioteca Nacional.
Deixou a mochila, entrou e fingiu
procurar um livro no monitor. Depois foi fazer a requisição com o número de
registro, e se sentou a uma das mesas, olhando em volta, enquanto esperava o
livro, para ver se encontrava o colega.
Quando o viu calmo, lendo um volume
grosso e velho, escrito em outra língua, correu para ele, praticamente a
gritar:
- Imbecil, que bom ver você.
Vários olhares de censura e muitas
vozes fizeram psiu. A bibliotecário veio mandar que se sentasse no seu lugar e
se calasse.
Uma mensagem com os olhos foi o
suficiente para Carlos sacar que Lenardo queria que ele saísse e o encontrasse
do lado de fora.
- Poeta, que bom ver você também.
- Pensei que você ia reclamar por
causa do meu escândalo.
- Bobagem, eles sempre esperam que
os estudantes façam essas coisas.
Carlos pensou algo mas calou, porque
na sua idade muitas vezes se sente vergonha de elogiar as pessoas. É que todos
pareciam inseguros, cada um a seu modo. Ele, por exemplo, tímido, sensível,
poeta (esse o seu apelido). Pat com suas manias, sempre com medo também, no seu
caso, medo do desconhecido (ele mais medo do conhecido).
Já o Frank precisava ou pensava que
precisava ser agressivo para suportar a sua esquisitisse. Era assim com todos,
todos mais ou menos agressivos, todos se sentindo deslocados, como se
precisassem se defender.
Com Lenardo outra coisa acontece:
ele está sempre sorrindo, ele é claro no que pensa, não se precisa sentir medo
de ele estar fingindo ou tramando alguma coisa, ou se perguntar se ele acha
você um babaca e se ri por dentro, porque o que ele acha ele fala, e a gente
sente isso, e mais, que ele quer todo mundo bem, só ao olhar pra sua cara.
Como pode então pensar que esse cara
ia querer jogar uma bomba?
Iam caminhando lado a lado em
silêncio pela larga avenida central, quando Lenardo, que já estava o tempo todo
sorrindo consigo mesmo de prazer elevou a voz:
- Uma bomba! Isso que eu encontrei.
Será? Carlos quase deu um salto de
susto.
- Bomba?
- Modo de falar. Algo que muda tudo,
que vai deixar todo mundo de boca aberta.
- O que é??????? Fale logo.
Lenardo se aproximou e falou
baixinho,
- Sabe, eu amo os livros.
- O quê?
- Eu descobri como se faz um Gólem.
- Como?
- Complicado pra contar. Simples pra
fazer.
- Como você descobriu?
- Você sabe que eu sou judeu, meus
pais são judeus, meus avós vieram da Europa e falam iídiche, a língua dos
judeus europeus. Eu aprendi com eles, é uma das línguas que eu sei. Outro dia
eu estava passeando pelos sebos e vi um livro em iídiche sobre o Gólem, o ser
fabricado por um ser humano. Comprei o livro na hora, custou muito barato, as
pessoas nem sabiam o que estava escrito nele. Levei pro meu quarto e passei a
noite toda lendo. Assim que acabei de ler, mandei o e-mail pra você.
- Isso foi ontem.
- Sim.
Um silêncio se prolongou, enquanto
atravessavam a avenida, sem motivo. Depois Lenardo perguntou:
- Você entende?
- O quê?
- Você sabe por que eu chamei você?
- Você quer...
- Você é meu convidado. Vamos fazer
um Gólem juntos, hoje à noite.
- Você está louco!
- Claro que vamos. O que você pensa?
Que vou deixar isso pra lá?
- Não podemos fazer isso.
- Podemos e devemos.
-
Por quê? Para quê? Com que motivo e
argumento?
Um texto argumentativo não só
apresenta uma ideia como também procura fundamentá-la, mostrando as razões
pelas quais ela deve ser aceita. Por exemplo, você pensa que Carlos e Lenardo
devem fazer o Gólem? Que motivos podem ser alegados para eles o fabricarem? Ou
você argumentaria contra? Escreva sobre isso e não esqueça: os argumentos que
você utilizar devem apresentar coerência, isto é, não devem conter
contradições, e devem ter relevância, isto é, devem parecer pertinentes em
relação ao assunto.
Gólem
As lendas sobre a iniciativa do homem
fabricar um ser, seu semelhante, existem em praticamente todas as culturas. São
narrativas que transitam ao longo dos tempos contando que algum titã, um mago, xamã
ou herói ousado, desafiando os céus e as forças divinas, deu vida a uma
criatura qualquer. Fantasias que herdamos da Grécia desde dos tempos em que
surgiu o mito de Prometeu e que nos chegam até hoje, envoltas com outros nomes
e novas fórmulas, mas que na verdade tratam da mesma coisa: o extraordinário
desafio do homem criar a si mesmo.
Fabricando o Gólem
"Certa vez, faz tempo, eu, através
dos meus poderes, transformei o ar em água, e a água novamente em sangue, e,
solidificando-a em carne, formei uma nova criatura humana - um menino - e
produzi um resultado muito mais nobre do que o Deus Criador. Ele o criou da
terra, mas eu o fiz do ar - uma tarefa bem mais difícil: depois eu o desfiz e o
dissolvi novamente no ar."
Simão Mago, Apophisis Megale, século I
Coube ao rabino Judah Loew ben Bezalel,
uma sumidade do judaísmo de Praga - orientando-se pelas instruções existentes
no Livro da Criação de Eleazar de Worms (1160-1230) -, repetir de modo
incansável todas as combinações possíveis ali encontradas a fim de gerar uma
vida. Ele estava atrás, nada mais nada menos, de acertar a fórmula que lhe
permitiria criar Adão Cadmon, o primeiro homem.
Segundo a tradição dos místicos e dos
cabalistas judeus medievais, corrente que Judah Loew seguia, Deus deveria ter feito
o primeiro ser humano não de uma vez só, num gesto impensado, mas sim seguindo
vários ritos possíveis de serem repetidos pelos estudiosos. Quem imitasse o
Todo-Poderoso, reproduzindo-lhe o ato da criação, precisava antes de tudo ter
muita paciência. Ao consultar-se os escritos sagrados, as disposições
alfabéticas indicavam que era preciso, partindo das letras IHVH, fazê-las
combinar 231 vezes para dar vida a uma criatura, ou o dobro, isto é 462, se
desejasse fazer com que ela, depois de posta em pé, voltasse ao pó original.
A criatura do gueto
Finalmente, depois de um bom tempo, deu-se
o milagre. Exatamente como os cabalistas imaginavam que ter-se-ia dado o
nascimento original, de um monte de pó que haviam empilhado no gabinete do
rabino, ao embalo da voz monocórdica dele, uma figura humana começou a tomar
forma. Era um Gólem (algo amorfo, sem formas ainda), que não disfarçava sua
aparência de ter vindo do barro. Todo ele era encorpado e de cor de terra.
Dizem que o rabino, para dar um sopro de vida àquela argamassa de aspecto
humano, escreveu então sobre a testa da criatura a palavra Emet
(verdade). A função que deram à criatura era muito simples: proteger os judeus
do gueto.
Ocorreu que não demorou muito para o Gólem
pôr-se a crescer. Cada dia ele ficava maior, enorme, ao ponto da sua cabeça
romper com o telhado da casa do rabino. Ao invés da presença dele desencorajar
as atenções dos gentios para com o gueto, deu-se o contrário. As multidões,
ainda que temerosas, se aproximaram perigosamente para ver aquele assombro. Ao
rabino Judah Loew não restou outra alternativa do que destruir a quem dera a
vida. Pediu ao Gólem que se abaixasse e, num gesto de contra-magia, apagou uma
das letras da sua testa. Foi o que bastou para o gigante desmanchar-se em poeira.
Capítulo 4: o que eles fizeram na casa vazia
À noite se encontraram de novo, na casa de Lenardo,
cujos pais haviam viajado.
Carlos estava o tempo todo pensando que era brincadeira
do colega, porque Carlos na verdade era um poeta, e como poeta ele tinha a
mania de pensar que tudo eram palavras, metas da poesia. Lenardo não deu
importância, somente explicou que eles precisavam esperar a meia-noite, por
isso ficaram vendo tv (filmes humorísticos) e comendo pipoca com gordura animal
desnatada e queijo parmesão ralado, até dar a hora certa.
Aí mesmo é que o Carlos pensou que era tudo brincadeira.
Não havia clima para algo tão transcendental quanto criar um Gólem com eles
dando gargalhada das palhaçadas da tv e se entupindo de refrigerante de coco.
Mas... a meia-noite estava quase chegando, era quase a
hora. E Lenardo se levantou, lavou as mãos, e levou Carlos para o sótão da
casa.
Lá ele pegou um pouco de terra, misturou com água, e
ficou batendo como se fosse massa de bolo. Enquanto fazia isso falava palavras
que o rapaz não conseguia compreender. Depois acendeu uma chama de cores
variadas, que lançou sobre a mistura. Uma labareda subiu. Depois pareceu se
acalmar. Sempre falando em outra língua, Lenardo modelou um bonequinho bem
pequeno, assim duns dez centímetros de altura, no formato de um homem nu. E
continuou falando.
Meia hora já havia se passado. Carlos pensou que era
brincadeira mesmo. Aquilo era um boneco de massa. Como poderia falar que aquele
homenzinho seria um Gólem, que se supõe grande, e animado? Lenardo escreveu
três sinais do alfabeto sobre a testa do boneco. Escreveu com uma ponta de
metal, melada em tinta, e aquilo seria uma tatuagem que não ia sair, quando a
massa secasse, aliás, a massa já secara, a argila, e o boneco estava pronto.
O Gólem estava feito. E ele se mexeu,
olhou para os dois, e correu pelo assoalho, voltando para Lenardo, e parando à
sua frente, como se esperasse ordens.
Os textos descritivos utilizam
adjetivos entre outros modos de caracterizar aquilo que pretendem apresentar.
Legendas de filmes e resenhas de livros são exemplos deste tipo textual. Como
você imagina Carlos, Fred, Pat, Lenardo e Gaio? Escreva o seu texto,
descrevendo os personagens e depois aproveite para se exercitar utilizando
modelos à sua escolha.
Capítulo 5: a escola não cola
A professora perguntou quem foi que inventou ou declarou
ou descobriu alguma coisa e Carlos não soube responder. Porque não sabia mesmo,
na melhor das hipóteses, e pronto.
Mas também porque não estava conseguindo articular o que
ouvia.
Isso parece estranho, mas é a mais pura verdade.
Ele não conseguia montar o que ouvia.
Os sons que chegavam aos seus ouvidos chegavam como
ruído incompreensível, inapreensível, imponderável, in-montável.
Que coisa estranha!
Mas ele não dormira, viera direto pra escola, depois da
criação do Gólem ele fora pra casa, deitara um pouco, mas de novo não
conseguira dormir, como poderia dormir, com todas as possibilidades que se
abriam à frente dos dois, os criadores do Gólem?!.
Ele na verdade pegara carona, mas se considerava o
próprio responsável.
Viu que a turma dos chatos estava debochando dele,
principalmente o matusquela em pessoa, que ele já havia antes decidido aprender
a começar a ignorar, mas era duro.
Na hora da saída
estavam esperando por ele do lado de fora do portão.
Pensava na briga dos seus pais, se o Gólem serviria pra
isso.
Tropeçou no pé esticado do matusquela, que ria com cara
de mau.
- Seu poeta, olha por onde anda.
Outro riu em falsete.
- Ele só olha pras nuvens e pro sol.
- Eu acho que ele olha pra coisas da terra também.
Gente, pessoa, menina.
Fingiu que não ouviu e seguiu andando.
Parece que sempre ia ser assim.
Aí ele teve uma ideia, óbvia, como tudo mais parecia
ser.
Capítulo 6: algo vai dar certo
Depois da escola ele foi pra casa pensando em comer e
sair de novo à procura do Lenardo, mas estava tão contente com a ideia que teve
que parecia que já estava tudo bem tudo legal e ele caiu na cama sem querer e
dormiu a tarde inteira e a noite também.
No dia seguinte sua mãe veio acordá-lo pra ir prà
escola.
Dessa vez ele não conseguiu. Não podia aturar a gang do
xarope lá.
Resolveu caminhar à beira da praia.
Pegou o ônibus que ia prà zona sul, saltou na avenida,
foi na direção da praia, e começou a andar pelo calçadão. Àquela hora algumas
pessoas faziam corridas ou caminhadas obrigatórias, com roupa adequada, ele
achava isso muito engraçado, roupa certa pra andar, pra correr, pra suar.
Pessoas velhas e gordas, a maioria. Parece que fazer exercício engorda.
Sentou num banco, olhando o mar.
Não sabia o que fazer.
Ligou novamente prà casa do Lenardo. A família dele
estava em Israel, fazendo uma peregrinação sentimental familiar e
sócio-cultural.
Lenardo comia comida congelada e criava seu Gólem.
O difícil era ele atender ao telefone.
Quanto mais ir à escola.
O sol rachava, era inverno e muito calor, quase quarenta.
Comeu uma besteira e pegou o ônibus até o outro subúrbio
onde morava o feliz possuidor do Gólem.
A essa hora ele já estaria acordado.
O Gólem (1920
- 85 minutos), filme mudo fotografado em preto & branco, é protagonizado
por Paul Wegener que também escreveu e dirigiu este clássico do Expressionismo
Alemão.
Gólem é um ser de barro - mito de uma lenda medieval judaica - que ganha vida quando o rabino e astrônomo Loew, em Praga, no século XVI, encontra uma fórmula mágica num antigo livro da Cabala.
Um dos momentos de destaque no filme é quando o ‘monstro’ de barro, criado para proteger os judeus dos ataques anti-semitas, desperta sentimento afetivo por uma jovem.
Paul Wegener já havia levado por duas vezes o mito do Gólem para o cinema, sendo esta a mais bela.
Mais recentemente, a lenda do Gólem foi reescrita por dois grandes autores: Isaac Bashevis Singer, que publicou em 1982 o livro O Gólem, e Elie Wiesel, que também escreveu um livro com o mesmo título.
O Gólem influenciou várias produções de Hollywood e, com certeza, ainda inspirará inúmeros escritores de várias gerações.
Gólem é um ser de barro - mito de uma lenda medieval judaica - que ganha vida quando o rabino e astrônomo Loew, em Praga, no século XVI, encontra uma fórmula mágica num antigo livro da Cabala.
Um dos momentos de destaque no filme é quando o ‘monstro’ de barro, criado para proteger os judeus dos ataques anti-semitas, desperta sentimento afetivo por uma jovem.
Paul Wegener já havia levado por duas vezes o mito do Gólem para o cinema, sendo esta a mais bela.
Mais recentemente, a lenda do Gólem foi reescrita por dois grandes autores: Isaac Bashevis Singer, que publicou em 1982 o livro O Gólem, e Elie Wiesel, que também escreveu um livro com o mesmo título.
O Gólem influenciou várias produções de Hollywood e, com certeza, ainda inspirará inúmeros escritores de várias gerações.
Capítulo 7: algo vai ser bom
Tocou a campainha e esperou.
Várias, várias vezes.
Eles pareciam que estavam loucos.
Não fora à escola e o Lenardo não ia à escola há dias.
Mas ele agora tinha um plano.
Não ia arredar pé.
Tocou a campainha.
E Lenardo veio abrir.
Tresnoitado, como que em febre, os olhos brilhantes.
- Entra, Poeta, vem.
Subiu as escadas atrás dele, que não parava de falar.
- Ele é inteligente, Poeta. Estou aprendendo coisas com
ele. Eu estou aprendendo com ele!
- Isso é loucura.
- Não sei de onde tirou isso. Mas ele fala.
- Português?
- Se você preferir. Conversa comigo em qualquer língua
que eu utilize.
Abriram a porta e viram o Gólem, que estava a uma mesa,
lendo. Era muito engraçado, parecendo um jovenzinho, vestido com as roupas de
Lenardo, que ficavam muito folgadas nele, as mangas dobradas várias vezes.
Olhou para os dois e sorriu.
- Esse é o poeta, você se lembra dele?
- Mas é claro. Como vai, Carlos? - o Gólem era educado e
possuía uma voz melodiosa.
Mas o que mais surpreendeu Carlos foi o tamanho dele,
que já estava com meio metro de altura.
→ Você já deve ter ouvido a expressão “Como as crianças
crescem depressa!” Imagine uma cena em que você encontra já crescido alguém que
você viu criança. Registre as impressões do encontro, procurando enfatizar o
aspecto emocional da constatação da passagem do tempo. Qual a tonalidade com a
qual você reveste a cena? Pessimismo frente à impermanência das coisas ou
otimismo devido à impressão do desabrochar da juventude, à ideia de que as
coisas crescem tornando-se fortes e vigorosas?
Capítulo 8
- Quando você o criou ele tinha dez centímetros.
- Gaio cresce dia a dia. Mas, por favor, Poeta, não fale
dele, como se fosse um animal. Gaio é muito inteligente e entende tudo.
Era esquisito falar na frente dele. O boneco ou ser se movia
de modo estranho.
- Eu tive uma ideia. Fiquei na maior agitação.
- E agora?
- Agora não sei.
- Fala a ideia.
O Gólem veio se sentar ao lado dos dois, interessado.
- Sim, Carlos, conta pra nós o que você pensou.
- Em usar o Gólem, quero dizer, falar com você Gaio, pra
ver se você resolve nossos problemas.
- Quais?
Perguntaram juntos, Lenardo e Gaio.
- O meu pai abandonou a minha mãe. A gang do Matusquela
me enche o saco. O Fred gosta da Pat, que não quer saber dele.
- Mas como o nosso amigo Gólem poderia ajudar em alguma
dessas coisas? Ele não pode convencer seu pai a voltar pra casa. Ou alguma
garota a gostar de você ou do Fred.
- E tem mais problemas ainda.
- Eu posso pensar em como ajudar vocês, - Gaio falou,
tentando ser prestativo, mas confuso com o que ouvia.
- Se ele não pode nos ajudar nisso tudo, pra que nos
serve um Gólem?
Capítulo 9: eis um novo amigo
Todo dia Carlos ia à casa de Lenardo para passar o maior
tempo possível com o Gólem. Seu amigo voltara a frequentar as aulas da escola,
agora que seus pais avisaram que estavam chegando, e ele se perguntava onde
iria guardar Gaio, que crescia dia a dia.
Não decidiram ainda o que fazer com ele, quer dizer, no
que ele poderia ajudá-los.
Depois da aula, se reencontraram no sótão da casa, onde
o Gólem estava morando.
- Você reparou que o Gaio cresce dia a dia.
- Claro.
Depois de um momento, Carlos perguntou:
- O que ele come?
Gaio atalhou:
- Carlos, eu já pedi que você não fale sobre mim, na
terceira pessoa, quando estou aqui, na sua frente.
- Desculpe, Gaio. É que eu vejo você como uma criança.
- Mas eu não sou. Eu sou um Gólem.
- A inteligência do Gaio é espantosa, poeta.
- Eu estou aqui!
- Desculpe, Gaio, você é muito inteligente.
- Obrigado.
- Talvez você consiga encontrar respostas para os nossos
problemas.
- Vamos pensar, propôs o poeta.
Ficaram minutos andando pelo espaço abarrotado de
utilidades domésticas aposentadas, depois do que se cansaram, e se sentaram em
velhas cadeiras, olhando um pro outro.
- E então...
- Sem ideia.
- Eu também.
- Vamos comer.
Não era só a fome, que sentia também, e estava
sendo grosso, pois uma visita não se oferece para uma refeição na casa do
outro. É que Carlos queria ver o que o Gaio Gólem comia.
- Vamos, concordou Lenardo.
Na cozinha fez três sanduíches gigantescos. Eles se
alimentaram com prazer. E Carlos percebeu que o Gaio comia como qualquer um
deles.
Depois foram ver televisão.
Depois jogaram vídeo game.
Depois se sentaram no sofá da sala, com um som tocando
baixinho, e voltaram a conversar sobre seus problemas.
- Daqui a pouco tenho que ir pra casa. Minha mãe anda
reclamando que eu passo muito tempo na rua.
- Amanhã meus pais chegam de viagem.
- Eu gostaria de poder ajudá-los, amigos, pois isso
seria ajudar a mim mesmo.
- Pois eu sei o que você pode fazer: dar um pau no
Matusquela e seus capangas, ganhar a Pat pro Frank, e fazer meu pai voltar pra
casa.
O Gólem muito sério com sua cara de compenetrado
aquiesceu.
- Ok.
- E como ele vai fazer isso, amigo poeta?
- E onde vou ficar quando os pais de Lenardo chegarem?
- Eu tive uma ideia.
Capítulo 10: o novo amigo é goy
O senhor Johan e a senhora Ester estavam tentando levar
a situação da melhor maneira possível.
- Quer dizer que ele é goy?
Goy é como os judeus chamam os não judeus.
- Papai, o Gaio não gosta que falem na frente dele,
sobre ele, como se ele não estivesse aqui.
- Desculpe, meu filho.
- Não foi nada, senhor.
Gaio estava sentado na sala, no sofá, na frente dos pais
espantados de Lenardo, que lhes apresentara o Gólem como seu amigo, diretamente
vindo de outro estado, de uma família pobre, que sofria as intempéries do
clima, e tinha enviado o jovem para estudar na cidade grande. Contou que se
conheceram na internet e ele prometera ao amigo virtual ajudá-lo a encontrar
moradia e escola.
Gaio vestia algumas das mais elegantes roupas de
Lenardo, e tinha a sua face de argila maquiada cuidadosamente com o pó-de-arroz
da dona Ester.
- Claro que vamos ajudá-lo, jovem. Mas precisamos
conversar com sua família.
- Amanhã nós tratamos disso, falou rápido Lenardo.
- Eu preciso de alguns dados...
- Amanhã.
- Tá bom, filho.
Dona Ester tomou as rédeas da situação:
- Vou arrumar o quarto de hóspedes pra você, Gaio. E
amanhã mesmo vamos todos juntos ao colégio onde Lenardo estuda, eu vou
matriculá-lo. Agora vamos comer macarronada.
Os dois jovens gritaram de prazer.
Capítulo 11: conversa é conversa
Muitos estranharam o novo aluno, e logo o Matusquela
quis implicar.
- Fala aí, papagaio.
No primeiro chute que deu no novo menino quebrou os
dedos do pé e foi levado da escola por sua mãe preocupada, que só sabia chamar
o Matusquela de filhinho querido, debaixo dos risos de deboche de seus próprios
amigos.
- Por que ele é tão estranho...
Perguntou a Pat baixinho, pro Lenardo.
Carlos veio correndo e respondeu pelo amigo:
- Ele é de outro estado. Passou muita fome.
- Parece que ele tá com maquiagem.
- E peruca, acrescentou Frank, mas com a preocupação de
também não falar alto.
Estavam todos felizes, gozando a supremacia sobre os
imbecis, a humilhação do insuportável matusquela.
- Louco é chato.
- Nem sempre.
A resposta inesperada de Gaio deixou a Pat com medo.
- Acho que vou andando.
Estavam na portaria da escola, a aula havia acabado, e
ela de repente ficara com medo do garoto estranho, que parecia um boneco
falando.
- Espere menina, preciso falar com você.
Mas a Pat saiu correndo sem olhar pra trás.
- Um tento, jogou o Matusquela pra escanteio.
- Mas com Paty nada feito.
- Mulher é complicada mesmo.
- Do que vocês estão falando?, perguntou o Frank
confuso.
Carlos e Lenardo se olharam, depois olharam pro Gaio,
que sorriu.
- Ele sorri!
- É claro, Poeta.
Capítulo 12: a banda rola
Na casa de Frank havia um galpão onde ele projetava
fazer os ensaios do grupo, ali já havia guitarras, amplificadores e outros
equipamentos. Parece que o pai dele não regulava os dólares ou euros ou que
outra moeda fosse.
Ali ele se encerrou com Lenardo, Gaio e Carlos, e falou
prà mãe que ia ensaiar, que ela não interrompesse.
- E o gordo nerd?
- O nome dele é Artur.
- Ele vai chegar?
- Só depois.
- Tá bom.
- Agora conta.
- E tu arrumou um guitarrista?
- Poeta, ele tá ansioso.
- Isso. Quero saber o que há. Não arrumei um guitarrista
ainda.
- Bom... quem conta? - perguntou Lenardo.
Gaio falou com timidez:
- Posso contar?
Carlos e Lenardo ficaram surpresos.
- Fala, Gaio.
E Gaio contou para o surpreso Frank tudo o que
aconteceu.
Carlos estava preocupado, pois não sabia ao certo se
Frank era gente ou monstro, e por isso achava que a narrativa de Gaio poderia
mexer com ele.
Depois de muitas confirmações, e de Gaio mostrar seu
rosto sem pintura nem peruca, e a inscrição na sua testa, Frank acreditou.
- Esse texto não pode ser apagado, eu o inscrevi nele,
fiz tipo uma tatuagem na sua pele de terra.
- Então, pelo que você me contou, Gaio é imortal.
- Acho que é.
- E ele cresce dia a dia.
- Isso.
- Então como vai ser?
- Sei lá. Mas eu gosto muito dele, estou feliz com sua
presença.
- Eu também.
Gaio falou emocionado:
- Obrigado, amigos.
- Ele nos foi muito útil hoje, quando humilhou o imbecil
do Matusquela.
- Mas ele não pode ficar resolvendo nosso proble...
peraí, você queria que ele falasse com a Pat!!!!
- É.
Frank ficou furioso, mas soube se controlar, e foi
controlado que ele falou, com voz firme, como quem não admite contestações:
- Não aceito que vocês façam isso, de forma nenhuma.
- Desculpe Frank, eu não quis irritar você. Pensei que poderia
ajudar de alguma forma. No caso do seu colega Matusquela ajudei sem querer, ele
que me chutou e quebrou o pé. Foi vítima de sua própria violência. Deveria
saber que a toda ação corresponde uma reação igual e contrária.
- Mas não se meta no meu caso com a Pat.
- Pode ficar seguro.
- Tudo bem.
Ficaram um tempo parados, sem saber o que fazer.
Gaio pegou por acaso uma guitarra e começou a brincar
com suas cordas. Foi se enturmando com o instrumento, e logo estava solando
igual a gente grande. Os três rapazes olhavam pra ele de queixo caído.
- Liga o amplificador.
- Xacomigo.
Ficaram embevecidos.
Artur chegou, abriu a porta, não falou nada. Sentou na
bateria.
Frank pegou o baixo.
E o som rolou.
Pronto. Gaio agora realizara o sonho de seu amigo e a
banda estava formada.
Só faltava o Gaio ajudar a ele, Carlos, convencendo o
seu pai.
Maria
Tereza Maldonado falou com 400 pessoas antes de falar ao Educacional. Com base
em sua pesquisa, afirma que são dois os desafios de uma separação. O casal
desfeito deve manter a sociedade parental e reconstruir uma nova e harmônica
forma de organização familiar. Tão importante quanto saber se separar sem
traumas é saber reconstruir a família. Os filhos agradecem.
O que já foi "sim, eu aceito" se
transformou em "você não presta, você não vale nada, seu (sua)
‡ð#¤Ø†Þ!". No lugar de juras de amor, impropérios impublicáveis. Em franca
expansão desde os anos 80, a separação já é o destino de quase um terço dos
casais no ano 2000, em números publicados pela revista Veja de 13/06/2001.
Para a psicóloga de família Maria Tereza
Maldonado, mesmo que a convivência se torne insustentável e a casa caia, ao
menos uma coisa tem de ficar de pé. "É necessário cuidar para manter uma
sociedade parental razoável e preservar o direito da criança de ter acesso
igual ao pai e à mãe", recomenda.
Por manter a sociedade parental,
entenda-se: quem deixa de ser marido e mulher não pode deixar de ser pai e mãe.
Enquanto isso não acontece, conforme se vê na maior parte dos acordos de
separação e suas famigeradas "visitas quinzenais", ela defende que o
pai tem que se fazer mais presente na educação dos filhos.
Entre outras coisas, é disso que depende o
equilíbrio de mais de 250 mil crianças que, ainda segundo dados de Veja,
estão envolvidos em separações e divórcios no país. São processos que duram
anos, se não décadas, e que podem arrastar os filhos para dentro do redemoinho,
do turbilhão emocional em que os pais se meteram.
Na entrevista a seguir, Maria Tereza
Maldonado conta como tirar os filhos do fogo cruzado de onde, em geral, saem
chamuscados. Ela enumera e comenta as diversas "áreas de risco" que
os pais devem evitar, desde transformar o desamor em ódio, falar mal do
ex-cônjuge até colocar os filhos como espiões ou "moeda forte" da
relação.
Nessa briga de marido e mulher, ela afirma
que a escola pode meter sua colher. Ela não só deve estar sensível aos sintomas
que as crianças podem apresentar durante a crise familiar como deve atentar
para o fato de que a família tradicional pode não mais corresponder à realidade
dos alunos. "Por isso, é importante que a escola possa trabalhar a
validade dessas outras organizações familiares", conclui. /.../
Vitor Casimiro
Exclusivo para o Educacional
junho, 2001
Ver
também:
→ Os pais de Carlos têm um
problema... Isso não parece muito incomum, não é mesmo? Apesar de ser
preferível que os pais permaneçam juntos, algumas vezes é preciso aceitar a
separação, como uma alternativa para ser feliz. No entanto há quem sustente a
opinião contrária e considere que o casamento é uma instituição que não pode
ser desfeita. Escreva sobre o assunto. Como você considera a questão?
Capítulo 13: o segredo do Frank pai
A noite os encontrou felizes, fazendo planos prà banda.
Foram jantar na sala, na frente da tv, quando o pai de Frank chegou.
- Oi filho, oi rapazes.
- Oi pai.
- Oi.
- OI.
- Esse é o Gaio, esse é o Artur...
Mas o homem não o ouviu ou reparou nos seus colegas,
correu para a cozinha, e eles puderam perceber que o pai e a mãe de Frank
falavam exaltados, em altos brados.
Carlos estava nervoso com aquilo.
- Que saco. Eu já vi esse filme.
Mas Gaio parecia que estava ouvindo coisas que eles
todos não conseguiam ouvir.
- Não é isso, Carlos. Eles não estão brigando. Eles
estão com um problema.
- Frank, você sabe alguma coisa?
O rapaz olhou para Lenardo, sacudindo a cabeça,
pensativo.
Carlos aí pensou que o problema era o próprio filho, ou
melhor, criatura.
- Frank, conta toda a verdade pra nós.
- Eu não sei de nada.
- Nós lhe contamos do Gaio.
- Ele contou. O que você quer que eu conte.
- Eles fizeram você?
- Claro, sou filho deles!
- Naquele porão...
- O quê?
Gaio pareceu haver descoberto alguma coisa:
- Sim! É isso! O porão.
E sem esperar permissão ou explicar alguma coisa ele
simplesmente caminhou até o quarto dos fundos e quebrou o cadeado que trancava
a entrada pro porão e entrou por ali.
Os jovens entraram atrás dele, e logo depois o
pai e a mãe de Frank.
Todos ficaram surpresos e exclamaram uma
interjeição ao verem que dentro do porão havia dois homens sujos e
esfarrapados, um deles ferido.
Como então, sob protestos
de amplos setores e debaixo de promessas de que desta vez era diferente, de que
se tratava de um “acordo soberano” e não lesivo aos interesses nacionais, o
novo governo firmou um acordo com o FMI velho de guerra, depois de muitas idas
e vindas, de intermináveis voltas em torno do óbvio, de dúvidas, anúncios,
desmentidos e de muitos ensaios para tentar obter um acordo “diferente”.
Você aí, que já achou
genial gritar “fora FMI!”, que sempre considerou o “fim da picada” o governo
dobrar-se às receitas recessivas daqueles “gigolôs” de Washington que seguem as
ordens do imperialismo americano, está se sentindo decepcionado, frustrado ou
traído? Pois é, está aí um belo acordo para nenhum neoliberal botar defeito, stand-by clássico, cheio de
condicionalidades, sem qualquer um daqueles limites que os defensores da
soberania insistiam em incluir no “seu” acordo: sem gastos de estatais
contabilizados fora do déficit público, sem liberdade para esticar o orçamento
nos investimentos sociais, sem redução dos níveis de superávit primário, enfim,
os argumentos usados e abusados em torno das “diferenças”, durante quase um ano
de tormentos e angústias. Aqueles que no passado se desdobravam em denúncias
contra o governo anterior, acusado do crime de “lesa soberania” e de não defesa
dos interesses nacionais, devem estar se perguntando: como foi possível essa
repetição de políticas condenadas no passado e como se chegou a essas cenas de
neoliberalismo explícito? /.../
Dizer que o governo
“produz” 4,25% de superávit primário ou que o Brasil paga “tanto” de juros aos
banqueiros significa apenas dizer que uma pessoa está com 38 graus de febre.
Isso não ajuda em nada no diagnóstico e tampouco contribui para apontar uma
cura qualquer, adequada obviamente, ao mal do paciente. O Brasil vem de um
longo itinerário de ressacas inflacionistas, de pileques emissionistas e de um
péssimo hábito de viver com a poupança alheia (nacional, no caso do governo, ou
estrangeira, no caso do conjunto da economia). Nada de muito diferente do caso
daquele sujeito perdulário, gastador irresponsável e que se acostumou a viver
acima das suas posses. Nada de muito grave se você possui uma tia rica que lhe
paga o cartão de crédito ou o buraco do cheque especial, mas sumamente grave no
caso de um país que se viciou nos gastos sem cobertura até o limite da
inadimplência e que nem sempre tem de onde tirar.
→ Imagine que você é o
presidente! Qual o seu plano para resolver o problema da dívida externa?
Capítulo 14: o presidente e o clone
- O que está acontecendo aqui? - falou Frank. -
Eu exijo saber.
- Não é nada meu filho.
- Não me venha com panos quentes.
- É melhor contar tudo pro menino, Frank.
- Está bem. Sentem-se todos. Vamos conversar.
Cada um se acomodou como pôde no apertado porão,
e o pai de Frank ficou de pé, na frente de todos, e começou a falar.
- Meus jovens, este é Leo, este é Estefâneo.
Eles são de uma organização secreta da qual eu faço parte, e que luta pela
libertação de nosso país.
- Meu pai virou um subversivo.
- Escute tudo, antes de julgar, meu filho. Nós
descobrimos que havia um plano para raptar o presidente eleito, como todos
sabem, o Guli Bosha, que tomou posse há apenas alguns dias. Estávamos tentando
evitar que alguma coisa acontecesse com ele, pois ele se apresenta como uma
esperança viável de libertação do Brasil de certos acordos financeiros que
mantêm nosso povo na miséria. Havia muita especulação no sentido de que as
forças de direita que mantinham o país acorrentado não permitiriam a sua posse.
Mas, apesar de tudo, ele foi empossado, e iniciou o seu governo, fazendo tudo
ao contrário do que prometera e propusera durante anos a fio. Começamos a
investigar, e meus agentes hoje, a custa de muitos sacrifícios, me trouxeram a
informação de que o presidente Guli Bosha está preso em algum subúrbio de
Brasília, enquanto um clone especialmente preparado tomou posse em seu lugar.
- Mas isso é um absurdo, um clone do presidente
seria um bebê, não poderia ter a idade dele.
Leo, um dos agentes do velho Frank, esclareceu:
- Nas minhas investigações eu descobri que os clones
humanos envelhecem muito depressa, assim como crescem, também. Esse clone do
presidente Guli Bosha está com um pouco mais de dois anos de idade, mas já
parece ter a mesma idade madura.
Foi a vez de Estefâneo completar:
- Meses antes, o presidente saiu com uma mulher que o
seduziu numa festa. Ela conseguiu algumas células do presidente enquanto
jantavam juntos, fazendo com que ele cortasse o dedo num caco de vidro. Com
essa amostra os cientistas inimigos fizeram alguns clones, por via das dúvidas.
Não sabemos bem o que houve, o fato é que conseguiram maturar um deles, e agora
é esse clone que manda no país.
- Essa é a situação, meus amigos. Por isso eu estou tão
nervoso. Não sei como fazer para libertar o verdadeiro presidente, bem como
para provar para a nação que aquele que está sentado na cadeira presidencial é
falso.
Carlos se alegrou, quando falou:
- Eu tenho uma proposta.
Como você descreve Johan, Ester,
Frank pai, a mãe de Frank, Lúcia, Leo, Estefâneo, o presidente Guli Bosha e seu
clone?
Capítulo 15: o Gólem nação
No dia seguinte, quando todos voltaram ao porão da casa
de Frank, Gaio já estava com a altura de um homem adulto.
- Lenardo, é melhor eu ensinar você a tocar guitarra.
Não sei até quando vou poder conviver com os seres humanos.
- Gaio, nós precisamos de você.
- Carlos, você precisa de você. Mas eu prometo fazer o
que puder para devolver o verdadeiro presidente Guli Bosha para o país. E
ensinar um pouco de guitarra para o Lenardo.
Lenardo falou que já havia agendado um show pra dali a
dois dias, num festival de bandas novas. E que o nome do grupo justamente era O
Gólem.
- Tudo bem. Vou tocar com vocês no evento. O resto vocês
vão ter que fazer por si mesmos.
- E qual é o plano?
Frank júnior perguntou. Ao que o seu progenitor
respondeu:
- Leo e Estefâneo suspeitam que o presidente está
amarrado num dos quartos de uma certa casa, aonde suas investigações os
conduziram. Gaio irá até lá, entrará à força e libertará o presidente.
- Parece bem simples.
- E depois?
- Vamos improvisar.
O
FMI diz que o Brasil não necessita de novo acordo, mas acrescenta que ouvirá
com boa vontade qualquer proposta do nosso governo. Nossas principais
autoridades, por sua vez, inclusive Lula e Antônio Palocci, confirmam que as
condições atuais são favoráveis ao Brasil, que, também segundo eles, não
necessita mais do dinheiro do Fundo. Mesmo assim, completam, só em fins de
outubro, de maneira pragmática e não ideológica, decidirão o que fazer. “Passei
parte da minha vida gritando 'não ao FMI'”, diz Lula. “Agora sei que não se
trata de nenhum bicho-papão. Negociaremos um novo acordo se isso for do
interesse do Brasil.” /.../ Este ponto precisa ser enfatizado: pelos seus
estatutos, o FMI existe apenas para prover linhas de crédito de curto prazo a
países com dificuldades momentâneas em suas contas externas, de modo a que eles
possam superar esses desequilíbrios temporários. A partir da década de 1980,
porém – agindo à revelia desses estatutos, que não foram alterados –, a
instituição passou a ser o “veículo multilateral” usado pelo governo dos
Estados Unidos para promover reformas neoliberais (ou “reformas condicionadas”)
nas instituições econômicas, sociais e políticas dos países periféricos (ou
“emergentes”), no contexto de construção da nova ordem internacional. Em vez de
lidar com problemas localizados de liquidez, o FMI começou a promover
rearranjos internos, profundos e duradouros, nesses países. Passou a interferir
pesadamente na reorganização das economias (abertura comercial e financeira,
por exemplo) e das sociedades (reformas nos sistemas previdenciários e
trabalhistas, por exemplo), exigindo medidas que escapam completamente de sua
esfera de competência original. /.../ Em relação à análise do mês anterior, as
principais alterações relevantes para o nosso tema são uma revisão para cima na
expectativa de saldo comercial (de US$ 17 mil milhões para US$ 20 mil milhões)
e projeções mais otimistas do Banco Central sobre a nossa possibilidade de
fechar sem maiores problemas o balanço de pagamentos em 2004. Assim, no que diz
respeito ao acordo com o FMI, as perguntas são quase óbvias. Se está afastada a
hipótese de uma crise que possa conduzir a uma moratória de pagamentos
externos, por que ainda se discute a renovação do acordo? Por que esta questão
não é simplesmente superada, com o Brasil retornando à situação normal, sem
tutela? Por que, nesse debate, ambas as partes comportam-se com tanta ambiguidade?
/.../ Por isso, as previsões sempre se
mostram otimistas, e o crescimento é sempre adiado para o ano que vem. O
crescimento de 2003, por exemplo, deveria ser de 5%, segundo as previsões da
LDO de 2001; de 4,5%, segundo a LDO de 2002; de 4%, segundo a LDO de 2003; de
3,5%, segundo a LDO de 2004, feita já durante o governo Lula. Hoje se espera
uma taxa de 0,5%, considerada “muito boa” – pois acima de zero! – pelo
impagável ministro Palocci. (Como a população do país cresce cerca de 1,5% ao
ano, a sociedade empobrece sempre que a capacidade produtiva cresce abaixo
desta taxa.) /.../ Os riscos políticos dessa trajetória são evidentes,
pois com o tempo a sociedade se cansa e passa a exigir maior atenção aos seus
problemas sociais. Fernando Henrique Cardoso que o diga. Por isso Lula
tornou-se insubstituível, ao conquistar a confiança do sistema financeiro
internacional, aceitando sua agenda, e ao apresentar-se como o político mais
capaz de evitar – ou, pelo menos, adiar – uma crise social interna de consequências
imprevisíveis. /.../ Isso vem sendo crescentemente reconhecido pelos
conservadores. “O Brasil continuará sendo usado pelo FMI como o seu melhor
modelo atual de sucesso e, se for necessário, a entidade não deixará de aportar
recursos para manter essa situação”, dizia o editorial do jornal Valor
Econômico em 15 de setembro. No mesmo dia, O Estado de S. Paulo escrevia: “Não
faz diferença alguma colocar 'metas sociais' no novo acordo. Por que, então, o
governo Lula pensa em incluí-las e o FMI, em aceitá-las? Marketing dos dois
lados. O governo Lula poderia apresentar o programa como um 'acordo do PT'. E o
FMI, sempre acusado de deixar seus clientes na miséria, poderia exibir ao mundo
sua nova face social. (...) É capaz de o FMI mandar colocar uma estátua de Lula
no imenso saguão central de sua sede, em Washington.” /.../ A terceira
ideia do governo Lula é escandalosa: inserir “metas sociais” no novo acordo.
Passaríamos a estar constrangidos, de fora para dentro, por “condicionalidades
positivas” em torno de temas completamente estranhos aos estatutos do Fundo e
que dizem respeito, única e exclusivamente, à política interna do nosso país.
Nem Fernando Henrique imaginou tamanha demonstração de vassalagem: uma agência
controlada pelo governo dos Estados Unidos e sempre preocupada com as condições
de pagamento aos credores internacionais passaria a orientar e monitorar nossa
política social. Das duas, uma: ou o FMI apenas referendaria as metas sociais
do governo Lula (e, neste caso, a negociação seria uma pantomima) ou definiria
outras metas. Como, havendo novo acordo, ele estabelecerá as metas que afetam
as questões externas, terá assumido plenamente o governo do Brasil! /.../
Estamos oscilando, como se vê, entre a tragédia e a farsa. Dando sequência às
suas recorrentes tentativas de desmoralizar a esquerda, Lula agora diz que
sempre gritou “Não ao FMI!” como um jargão ideológico vazio e irracional. Isso
é problema dele. Da nossa parte, continuamos dizendo o mesmo “não”, sabendo
porém exatamente o que dizemos. Como sempre soubemos. /.../ (César
Benjamin, 2003-11-10)
Capítulo 16: o verdadeiro presidente é libertado
Frank pai possuía uma grande van que foi lotada pelos
garotos, o Gólem, Pat (que apareceu e foi chamada a presenciar a libertação),
os assistentes Leo e Estefâneo, sua esposa e ele mesmo.
Ficou bastante apertado, mas era um grupo animado, que
cantava e gritava enquanto se dirigia para a casa onde supostamente o
presidente era mantido prisioneiro. Só Frank pai se mantinha sério e
preocupado.
- Você tem certeza de que sabe o que fazer quando chegar
lá? - perguntou ao Gaio, mais uma vez.
- Vou evitar machucar alguém. Abrirei as portas e
tentarei encontrar o presidente.
- Por que vocês não chamam a polícia?
Sempre prática, a mãe de Frank, dona Lúcia, perguntou.
- Porque não podemos confiar em ninguém, respondeu seu
Frank.
- Então suponho que o Frank júnior não foi montado com
partes e fabricado com energia dos raios numa noite de tempestade?
Carlos sussurrou para Lenardo, que deu de ombros e
suspirou. Nem tudo podia ser perfeito. Mas eles iam salvar o presidente, e o
Brasil.
- Guli Bosha é muito alto, muito gordo, tem a cara muito
larga, lembra um pouco o retrato de Karl Marx, mas seus longos e revoltos
cabelos são muito vermelhos, e sua barba abundante batendo-lhe no peito é
totalmente ruiva.
- Um tipo inesquecível. Inimitável.
- Como vamos convencer a nação de que o libertado é o
verdadeiro Bosha? O falso pode simplesmente alegar que o nosso é que é o clone.
- Ele tem algum sinal de nascença?
- Meu amigo, se ele tiver, o clone também tem. É óbvio!
- Na hora a gente vê.
Chegaram na casa, que ficava numa pacata rua, da cidade
capital do país. O Gólem arrombou a
porta, entrou, ouviram-se tiros. Eram os capangas que disparam contra Gaio, mas
ele nada sofreu, e desacordou a todos. Depois vasculhou quarto por quarto, até
encontrar um onde o presidente Bosha estava acorrentado e amordaçado. O Gólem
quebrou as correntes e acalmou-o:
- Eu sou seu amigo.
Todos entraram na casa, e viram o que acontecera. Frank
falou com Bosha, que o conhecia, e contou tudo que houve.
- Agora chamem a imprensa e a polícia juntos. Amarrem
esses lacaios.
A imprensa chegou um pouco antes, e a polícia prendeu os
salafrários, que contaram tudo, e assim puderam chegar nos mandantes, e prender
o falso presidente. Para não haver confusão Bosha cortou seu cabelo curto. Não
foram encontrados outros clones.
Frank pai e Gaio ganharam medalhas comemorativas por seu
desvelo pela pátria.
BRASIL ROMPE COM O FMI
O Governo Federal assume maturidade das
instituições econômicas e políticas brasileiras, e defende sua autonomia, ao,
enfim, e felizmente, terminar seu contrato com o Fundo Monetário Internacional
- FMI, agora temos a chance imperdível de andar por nossas próprias pernas.
28/03/2005 - 13h17
Brasil desiste de renovar acordo com o FMI
O Ministério da Fazenda anunciou hoje que
o Brasil não vai mais renovar o acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional). Desde 1998, o país contava com o socorro do Fundo para
enfrentar crises externas e de desconfiança dos credores com o pagamento de sua
dívida, como aconteceu em 2002 antes das eleições presidenciais.
O ministro Antonio Palocci fará pronunciamento da decisão em cadeia de rádio e TV nesta segunda-feira.
O ministro Antonio Palocci fará pronunciamento da decisão em cadeia de rádio e TV nesta segunda-feira.
O prazo do atual acordo vence no dia 31 de
março, próxima quinta-feira. Recentemente, o FMI aprovou a décima e última
revisão do acordo com o país. Em relatório, divulgado na sexta-feira, o Fundo
afirmou que a economia brasileira desfruta das melhores condições em anos no
setor financeiro, mas pediu às autoridades para manterem a inflação sob
controle.
O FMI comentou ainda que, apesar de as
exportações terem liderado a recuperação, a demanda doméstica também cresceu
significativamente em 2004.
O contrato com o Fundo, fechado em
setembro de 2002, disponibilizou ao país US$ 42,1 bilhões. Desse valor, o
Brasil sacou apenas US$ 26,4 bilhões.
Inicialmente o acordo vencia em dezembro
de 2003, mas foi renovado até este mês. Pelo acordo, o governo brasileiro se
comprometeu a ter superávit primário de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto,
soma das riquezas de um país).
Entenda o que significa o "rompimento"
com o FMI
O Brasil utilizava os acordos com o FMI
(Fundo Monetário Internacional) como uma "espécie de seguro" contra
eventuais crises de confiança do mercado financeiro seja por razões externas -
como aconteceu durante a crise argentina, em 2001 - ou internas, como nos meses
antes da eleições presidenciais de 2002.
Pelos acordos com o FMI, o Brasil se
comprometia a fazer superávits primários, um dinheiro economizado para pagar os
juros e, com isso, impedir o descontrole do gerenciamento da dívida pública. No
último acordo, o comprometimento fiscal era de 4,25% do PIB.
Quanto maior o aperto fiscal, menores são
os recursos disponíveis para investimentos em geral.
Sem o FMI, é possível agora que o governo
afrouxe suas metas fiscais, liberando assim mais dinheiro para investimentos.
Por outro lado, o governo não poderá
liberar completamente seu caixa para não cair no descrédito dos investidores.
Ou seja, deverá continuar com metas fiscais próprias.
Capítulo 17: você escreve
A narrativa é um texto que conta um encadeamento de
ações, em que os personagens fazem coisas, num certo tempo e espaço. Aqui você
pode contar de outra forma o resgate do presidente Bosha, ou escrever o que
aconteceu a cada personagem depois que eles ganharam as medalhas do governo.
Como foi o show do Gólem? O que eles fizeram em relação a ele? Como ficou o
problema dos pais do Carlos? Frank conseguiu falar com Patrícia? O Brasil
resolveu seus problemas econômicos?
Capítulo
18: tudo fica bem
O show do grupo O Gólem foi um sucesso.
Gaio tocou como um virtuose, encantando a todos.
Matusquela, de pé engessado, aplaudiu, e foi falar com
os músicos depois do show. Parecia outro garoto, mais sincero e amigo.
Carlos estava sentado perto de Patrícia, e percebeu que
ela não tirava os olhos de Frank, durante todo o show.
- Pat, posso perguntar uma coisa pra você?
- Carlos, você acha que eu tenho chance com o Frank?
Carlos riu feliz.
- Fala com ele.
Os pais de Carlos estavam estabelecendo conversações
amigáveis, e isso já era um avanço. Se eles iam voltar ou não ele não sabia.
Mas estava feliz também em não haver pedido ao Gólem que se metesse nos
assuntos dos dois.
O Gólem já estava com quase três metros. Já não se podia
esconder que ele era um Gólem, e os cientistas, a polícia e os agentes do
governo cercaram a casa do show, esperando ele sair, todos querendo ser os
possuidores daquela criatura.
Gólem se reuniu com seus amigos nos bastidores e falou:
- Eu já estou maior que qualquer ser humano, já mal
caibo nas casas.
- Vamos encontrar um jeito.
- Obrigado, amigos.
- O Imbecil é um gênio. Ele arruma um meio de você parar
de crescer.
- Obrigado, novamente. Mas eu sei que não posso parar de
crescer, nem ser desmanchado, pois as letras foram gravadas na minha cabeça. Eu
vou crescer pra sempre. Sabe, eu lembro de quando eu era do tamanho de um
átomo, e depois, quando estava entre micróbios, e continuei crescendo. Em todos
os níveis fiz amigos, e procurei ser bom para todos. Agora estou saindo do
nível humano. Sou muito grande para vocês. Por isso vou procurar novos amigos.
Mas sempre pensarei em vocês com carinho.
Todos abraçaram o Gólem.
E ele saiu pela porta dos fundos, deu um pulo na direção
do céu escuro noturno, e sumiu de vista.
Amigo leitor
Ao longo do livro propomos muitas respostas e
participações suas. Você pode, com seus textos, reescrever a narrativa, ou
completar esta, ou fazer uma nova, com outro enredo. Você pode ainda nos
escrever, para remeter seus textos, que leremos com prazer, bem como
responderemos a qualquer comentário ou sugestão.
Escreva para o nosso e-mail: lmoraisjunior@uol.com.br
Lui e Lia
Rio de Janeiro, 2 de abril de 2005
(Dia Internacional do Livro Infanto-juvenil)
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